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Linfedema

O linfedema é uma condição complexa e muitas vezes negligenciada, mas que pode ter um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas que vivenciam essa doença. Neste blog, exploraremos em profundidade o que é o linfedema, suas causas, sintomas, diagnóstico e opções de tratamento.

Além disso, discutiremos estratégias de gestão e cuidados para ajudar aqueles que lidam com o linfedema a viverem de forma mais confortável e saudável.

O que é linfedema?

O linfedema é uma doença crônica e progressiva caracterizada pelo acúmulo persistente de líquido linfático (linfa) nos tecidos moles do corpo, resultando em um inchaço, especialmente nos membros superiores e inferiores. Este acúmulo ocorre quando o sistema linfático, encarregado de drenar o excesso de líquido, encontra-se comprometido ou obstruído.

Existem duas formas principais de linfedema: primário, originado por anomalias congênitas no sistema linfático e secundário, decorrente de lesões no sistema linfático, seja por cirurgias, radioterapia, infecções ou traumas. Além do inchaço perceptível, o linfedema pode desencadear desconforto, sensação de peso, restrição da mobilidade na área afetada e, em estágios avançados, mudanças na integridade da pele.

Quais são os tipos e causas de linfedema?

O linfedema é classificado em dois tipos principais, baseando-se em suas causas subjacentes:

Linfedema Primário

É causado por malformações congênitas no sistema linfático que podem ser decorrentes de uma falha no desenvolvimento dos linfonodos ou dos vasos linfáticos, resultando em uma drenagem ineficaz da linfa. Embora as causas exatas sejam muitas vezes desconhecidas, o linfedema primário pode ser hereditário e manifestar-se em diferentes momentos da vida:

  • Linfedema Congênito: este tipo de linfedema surge antes dos 2 anos, ou até mesmo já ao nascimento, resultante de anormalidades no desenvolvimento do sistema linfático. Um exemplo é a Doença de Milroy, ligada a mutações genéticas específicas, podendo apresentar sintomas associados como icterícia e diarreia decorrentes de problemas intestinais.
  • Linfedema Precoce: surge entre os 2 e 35 anos de idade e é mais comum em mulheres jovens, muitas vezes associado ao início da menstruação ou gestação. A Doença de Meige é um subtipo, ligado a mutações genéticas que afetam a função de certos genes e podem causar sintomas adicionais como distiquíase e fenda palatina, mas também edema das pernas, braços e, às vezes, na face.
  • Linfedema Tardio: O linfedema tardio, surge após os 35 anos de idade, pode ser tanto de origem familiar quanto esporádica, com sintomas semelhantes a outras formas, mas potencialmente menos graves. Além disso, o linfedema pode ser observado em várias síndromes genéticas, como a Síndrome de Turner e a Síndrome das Unhas Amarelas, entre outras.

Linfedema Secundário

Este tipo de linfedema é adquirido, pode ocorrer em qualquer idade e resulta de danos ao sistema linfático. As causas mais comuns incluem:

  • Cirurgias oncológicas: procedimentos cirúrgicos em que há a necessidade de remover os linfonodos (linfadenectomia) como parte do tratamento do câncer. Como exemplo podemos citar a mastectomia para tratamento de câncer de mama, a prostatectomia para tratamento do câncer de próstata, a cirurgia para tratamento de alguns casos de melanoma, entre outros procedimentos.
  • Radioterapia: muitas vezes necessária no tratamento de diversos tipos de câncer, ela pode causar inflamação e cicatrizes dos linfonodos e vasos linfáticos.
  • Infecções: infecções graves, especialmente aquelas causadas por parasitas como na filariose, podem danificar os linfonodos e vasos linfáticos, levando ao linfedema
  • Trauma ou lesões: acidentes ou ferimentos que afetam os linfonodos ou os vasos linfáticos podem resultar em linfedema.
  • Câncer: tumores, quando crescem próximos aos linfonodos ou vasos linfáticos, podem bloquear o fluxo normal da linfa e resultar em linfedema.
  • Inflamação Crônica: condições inflamatórias crônicas podem contribuir para o desenvolvimento de linfedema ao afetar os linfonodos e a drenagem linfática.

Em muitos casos, uma combinação de fatores pode contribuir para o desenvolvimento do linfedema, especialmente no linfedema secundário, tornando essencial uma abordagem multidisciplinar para tratar essa doença. O tratamento e manejo do linfedema visam reduzir o inchaço, diminuir os sintomas e prevenir infecções, com abordagens que podem incluir procedimentos cirúrgicos, que serão detalhados adiante nesse texto, além de drenagem linfática manual, terapia de compressão, exercícios específicos e cuidados adequados com a pele.

Quais são os sintomas do linfedema?

Os sintomas do linfedema variam de acordo com a gravidade da doença, mas tipicamente incluem:

Inchaço: o sintoma mais comum do linfedema é o inchaço progressivo e persistente que geralmente afeta os membros superiores ou inferiores. Em casos avançados, o inchaço também pode afetar o tórax, as mamas, a cabeça e o pescoço, ou os órgãos genitais.

Sensação de Peso ou Tensão: o paciente muitas vezes relata a sensação de peso ou tensão na área acometida, tornando as atividades diárias mais difíceis.

Dor ou Desconforto: algumas pessoas experimentam dor ou desconforto na área afetada, embora não seja o sintoma mais comum da doença

Redução da Flexibilidade: o inchaço pode limitar o movimento na articulação próxima à área afetada, reduzindo a sua mobilidade e flexibilidade.

Alterações na Pele: a pele sobre a área afetada pode se tornar dura, espessa ou com a textura alterada. Em estágios avançados, podem surgir feridas ou infecções.

Roupas ou Joias Ajustadas: o paciente muitas vezes nota que roupas, sapatos ou jóias ficam mais apertados e justos na região do corpo acometida pelo linfedema.

Episódios Recorrentes de Infecções: pessoas com linfedema podem apresentar infecções de pele recorrentes na área afetada, como celulite ou erisipela, muitas vezes levando a internações hospitalares frequentes.

O início dos sintomas é gradual e inicialmente leve, tornando-se mais perceptível e grave com o tempo. A detecção e o tratamento precoce podem ajudar a gerenciar os sintomas e prevenir a progressão da doença. Se você notar inchaço persistente ou outros sintomas relacionados ao linfedema, é importante procurar avaliação médica para um diagnóstico adequado e discussão das opções de tratamento.

sintomas de linfedema

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico do linfedema geralmente envolve uma combinação de avaliação clínica e exames de imagem, permitindo ao médico avaliar a extensão do inchaço e determinar a causa subjacente. Aqui estão os passos típicos no processo de diagnóstico:

Avaliação Clínica

Anamnese (Histórico Médico): O médico irá perguntar sobre os sintomas do paciente, histórico de saúde (incluindo qualquer cirurgia prévia, tratamento de câncer, ou infecções) e se há um histórico familiar de linfedema.

Exame Físico: O médico examinará a área afetada para avaliar o inchaço, a textura da pele e a presença de qualquer sinal de infecção. Também pode ser feito um teste de “pinça” para verificar se a pele pode ser facilmente levantada (um sinal de inchaço inicial) ou se está espessada e difícil de levantar (indicativo de linfedema mais avançado).

Exames de Imagem

Linfocintilografia: Este exame de medicina nuclear é realizado para mapear o fluxo do líquido linfático e identificar bloqueios no sistema linfático.

Linfografia em tempo real com Indocianina Verde: exame realizado pelo próprio médico que irá tratar o linfedema. É um exame dinâmico, em que um contraste (Indocianina verde) é injetado na área afetada e através de fluorescência para captar as imagens, o médico é capaz de observar e avaliar o sistema linfático em tempo real. É o melhor exame para diagnosticar e programar o tratamento cirúrgico.

Ressonância Magnética (RM): Esse exame de imagem pode fornecer informações detalhadas dos tecidos moles e do sistema linfático ajudando a identificar as regiões acometidas pelo linfedema.

Ultrassonografia: Pode ser utilizada para detecção das vias linfáticas mais profundas, mas principalmente auxilia a descartar outras causas de inchaço, como alterações no sistema arterial ou venoso.

Após o diagnóstico, o tratamento é geralmente direcionado para gerenciar os sintomas e prevenir a progressão da doença. É importante abordar o linfedema de forma precoce e agressiva para minimizar o risco de complicações, como infecções e limitações de movimento. O diagnóstico precoce com um plano de tratamento personalizado e adequado, envolvendo uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde, são cruciais para otimizar os resultados e melhorar a qualidade de vida do paciente.

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Quais são os tratamentos para linfedema?

Embora o linfedema não tenha cura, estratégias de manejo adequadas podem melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente. O tratamento do linfedema foca no controle dos sintomas, redução do inchaço e prevenção de complicações como as infecções de repetição. Nos últimos 15 anos, com o avanço das tecnologias médicas e o advento da supermicrocirurgia (cirurgia realizada em estruturas menores que 0,8mm, com auxílio de materiais especiais e amplificação da imagem) novos tratamentos cirúrgicos para o linfedema surgiram com melhora dos resultados e qualidade de vida dos pacientes. Tais cirurgias são denominadas cirurgias fisiológicas para o linfedema e serão detalhadas mais adiante. Os tratamentos incluem:

Tratamentos Conservadores

Drenagem Linfática Manual (DLM): Uma forma de massagem especializada que ajuda a mover o excesso de líquido linfático de volta para o sistema linfático, reduzindo o inchaço.

Terapia de Compressão: O uso de meias, luvas ou mangas de compressão ajuda a manter a pressão sobre o tecido inchado, encorajando o fluxo linfático e prevenindo o acúmulo de líquido. Bandagens de compressão podem ser usadas após a DLM para manter a redução do inchaço.

Cuidados com a Pele: Manter a pele limpa e hidratada para prevenir rachaduras e infecções, como a celulite.

Exercícios: Exercícios específicos, frequentemente recomendados por um fisioterapeuta, podem promover o fluxo linfático e melhorar a mobilidade da área afetada.

Elevação: Elevar o membro afetado pode ajudar a reduzir o inchaço.

Tratamento Cirúrgico

O tratamento cirúrgico do linfedema pode ser dividido em dois tipos de cirurgias: 

1) Cirurgias fisiológicas – compreendem a Linfovenoanastomose (LVA) e o Transplante de Linfonodo (VLT); 

2) Cirurgias redutoras de volume – compreendem a Lipoaspiração e outros procedimentos como por exemplo o “Charles Procedure”.

Antigamente deixadas como última opção no manejo do linfedema, as cirurgias fisiológicas existentes hoje, passaram a ser a primeira opção de tratamento, mesmo que nos casos mais avançados da doença. Diversos estudos científicos comprovaram a eficácia desses procedimentos e demonstraram que o índice de sucesso é maior nos casos em que é possível tratar a doença no seu estágio inicial. Leia abaixo mais detalhes sobre esses procedimentos.

Tratamentos Alternativos e de Suporte

Dieta e Estilo de Vida: Manter um peso saudável e evitar atividades que possam exacerbar o inchaço, como exposição prolongada ao calor ou pressão excessiva sobre o membro afetado.

Pneumomassagem: Um dispositivo de compressão pneumática pode ser usado para fornecer massagem intermitente, ajudando a mover o líquido linfático.

A escolha das abordagens de tratamento depende da gravidade do linfedema, sintomas apresentados pelo paciente e resposta individual ao tratamento. O manejo eficaz do linfedema requer frequentemente uma combinação de várias estratégias de tratamento, adaptadas às necessidades específicas do paciente, e um compromisso contínuo com o cuidado e a vigilância para evitar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida.

Como é feita a cirurgia?

A cirurgia fisiológica do linfedema, uma intervenção especializada para o tratamento dessa condição crônica, emprega técnicas avançadas de microcirurgia e supermicrocirurgia com o objetivo de restaurar a funcionalidade do sistema linfático ou aliviar os sintomas associados ao acúmulo de líquido. Dentre as abordagens cirúrgicas, duas técnicas principais se destacam, podendo ser aplicadas de forma independente ou combinada, dependendo da avaliação clínica detalhada do paciente:

Linfovenosa Anastomose (LVA)

Esta técnica microcirúrgica é conduzida após um cuidadoso mapeamento dos vasos linfáticos através de exames de imagem, identificando o ponto crítico de falha no transporte do líquido linfático. Com a ajuda de um microscópio, o cirurgião cria uma conexão direta entre os vasos linfáticos e o sistema venoso adjacente, facilitando assim a drenagem eficaz do líquido linfático do membro afetado. A LVA é reconhecida por seu breve período de internação hospitalar, geralmente de 1 dia, refletindo a natureza minimamente invasiva e a rápida recuperação associada a essa técnica.

Transplante de Linfonodos

Nesta abordagem, linfonodos saudáveis são cuidadosamente selecionados e removidos de uma área não afetada do corpo do paciente. Eles são então transplantados para a região comprometida pelo linfedema, com o intuito de estabelecer novas rotas para o escoamento do líquido linfático.

O transplante de linfonodos requer um período de internação ligeiramente mais longo, aproximadamente de 3 a 5 dias, devido à complexidade do procedimento. Importante, durante a cirurgia, é realizado um mapeamento reverso para evitar a remoção do linfonodo sentinela da região doadora, minimizando o risco de complicações.

Considerações Adicionais

Além destas intervenções focadas na recuperação da dinâmica linfática, procedimentos complementares, como a remoção cirúrgica de tecido excessivo por meio de lipoaspiração, podem ser indicados para aliviar o inchaço e melhorar o contorno do membro afetado. Essa abordagem pode ser realizada em conjunto com as técnicas descritas, oferecendo uma melhora significativa na qualidade de vida do paciente.

Cada procedimento cirúrgico exige uma preparação cuidadosa, incluindo ajustes na medicação, controle de peso e cessação de hábitos nocivos, como fumar. A escolha entre as técnicas, bem como a decisão de combinar diferentes abordagens, é determinada pelo cirurgião plástico especializado após uma avaliação minuciosa do estado de saúde do paciente e do impacto do linfedema em sua vida diária.

O objetivo é sempre oferecer a melhor estratégia de tratamento, personalizada para atender às necessidades e aos objetivos individuais de cada paciente.

Quer saber mais sobre o tema acesse nosso texto sobre cirurgia de linfedema.

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